Mulher que alugou casa para miliciano morto na Bahia é investigada

Juliana Magalhães da Rocha é investigada pela polícia e pelo Ministério Público no Rio e na Bahia

© Divulgação

Justiça Polícia 09/07/20 POR Estadao Conteudo

Uma veterinária do Rio de Janeiro pode ajudar os investigadores a descobrir o patrimônio oculto do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, morto em fevereiro na Bahia, e a entender como funcionava a "rede de amigos" que lhe dava proteção. Acusada de ser funcionária fantasma em uma agência do Tocantins, Juliana Magalhães da Rocha alugou, por R$ 50 mil e em seu nome, uma casa na Costa do Sauípe, onde o miliciano passou a virada do ano.

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Investigada pela polícia e pelo Ministério Público no Rio e na Bahia, Juliana já foi tratada por investigadores como prima e cunhada do capitão Adriano. A veterinária teria negociado o aluguel da casa de veraneio de 5 de dezembro a 5 de fevereiro com a viúva do ex-PM, Julia Emília Mello Lotufo. Parte do pagamento foi feito em dinheiro vivo, segundo a investigação. A polícia da Bahia cercou a casa no fim de janeiro, mas Nóbrega conseguiu escapar.

O nome da veterinária foi citado nas investigações pela primeira vez por Leandro Abreu Guimarães, competidor de vaquejadas da Bahia, que acolheu capitão Adriano em sua propriedade, em Esplanada, para onde o miliciano fugiu após a batida policial na Costa do Sauípe. "Juliana, na condição de veterinária, cuida de animais no circuito de vaquejada, e disse ter conhecido o Adriano em função da profissão", diz registro do depoimento, em 12 de abril.

Preso por porte ilegal de armas, Guimarães ficou alguns dias na cadeia e foi liberado, com tornozeleira eletrônica. Ele disse desconhecer a ligação do amigo com a milícia e negou tê-lo ajudado na fuga. Nóbrega foi morto num povoado vizinho, na propriedade do vereador Gilson da Dendê (PSL), que também disse não ter nada a ver com o caso. Durante ano em fuga e, segundo investigadores, passou também por Tocantins, Sergipe, Rio Grande Norte e outros Estados.

Embora não seja foragida, Juliana nunca foi encontrada por investigadores, nem na apuração sobre capitão Adriano, nem para ser notificada no processo em que é acusada de ser funcionária fantasma no Tocantins.

Rachadinha

Investigadores seguem rastros do dinheiro movimentado pelo ex-PM em duas frentes: a que apura assassinatos, extorsão e formação de quadrilha da milícia Escritório do Crime e a que tem como objetivo supostos crimes de organização criminosa e peculato no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

A ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Nóbrega, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, trabalharam no gabinete de Flávio de 2007 a 2018. O Ministério Público do Rio afirma que as duas eram "fantasmas" e formavam um dos núcleos do esquema de "rachadinha", quando assessores contratos devolvem parte dos salários para o deputado.

Danielle e Raimunda receberam R$ 1 milhão em salários da Alerj no período. Segundo os promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), pelo menos metade desse valor retornou por meio de transferências, cheques ou depósitos para conta do ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema.

Preso desde o último dia 18, Queiroz trabalhou com Nóbrega no 18.º Batalhão da PM, no Rio. Desde 2003, a dupla é investigada pela morte de um homem, durante abordagem na Cidade de Deus. O caso não foi concluído. Ainda de acordo com o MP, em dezembro, a mulher de Queiroz, Márcia de Oliveira Aguiar, que está foragida, e um advogado de Flávio, Luiz Gustavo Botto Maia, se encontraram com a mãe do ex-PM no sul de Minas para discutir a fuga para família Queiroz.

O ex-assessor teria mantido "contatos recentes" com o miliciano e participado da rede de proteção de seus familiares, segundo o MP. No pedido de prisão de Queiroz, os promotores dizem que Raimunda foi orientada por ele a "permanecer escondida, temendo a retomada da investigação".

Queiroz e Nóbrega são apontados como responsáveis por impedir que Danielle fosse a um depoimento no Ministério Público e ordenar que ela "não mencionasse em conversas telefônicas os crimes praticados na Alerj." Segundo o MP, isso pode ser embaraço às investigações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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