Bolsonaro esbarra em histórico machista ao usar Michelle para atrair eleitoras

Nas comemorações da Independência, nesta quarta-feira (7), a imagem de Michelle voltou a ficar em destaque

© Getty Images

Política Campanha 08/09/22 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A primeira-dama Michelle Bolsonaro tem ganhado cada vez mais protagonismo na campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta diminuir sua rejeição entre as mulheres na busca pela reeleição.

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Nas comemorações do Bicentenário da Independência, nesta quarta-feira (7), a imagem de Michelle voltou a ficar em destaque, mas o chefe do Executivo repetiu o tom machista de falas anteriores.

Em discurso a milhares de apoiadores na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, Bolsonaro chamou Michelle de princesa e ensaiou uma comparação com outras primeiras-damas, numa referência implícita à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Ao meu lado, uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente", disse o presidente.

Não foi a primeira vez que ele esboçou uma analogia do tipo, repetindo a postura de meados de 2019, após troca de críticas com o presidente da França, Emmanuel Macron, devido às queimadas na Amazônia.

Na ocasião, Bolsonaro comentou um post em uma rede social na qual um usuário comparou imagens da primeira-dama da França, Brigitte Macron, e de Michelle e disse que as críticas do presidente francês ao brasileiro eram motivadas por inveja. "Não humilha, cara. Kkkkkkk", respondeu o chefe do Planalto.

A rejeição de Bolsonaro, de 52% no geral, chega a 55% entre as mulheres, segundo o último Datafolha. O desgaste do presidente com esse grupo foi o tema central do primeiro debate presidencial na TV, no qual o atual mandatário atacou a jornalista da TV Cultura Vera Magalhães ao ser questionado sobre vacinação.

Diante da alta rejeição, o entorno do presidente defende desde o início da campanha uma participação mais ativa da primeira-dama. Como mostrou a Folha, a avaliação do núcleo que define a estratégia de Bolsonaro é a de que Michelle, vista como carismática, poderia humanizar a imagem do candidato.

O presidente vem, assim, explorando a imagem da primeira-dama na corrida eleitoral. No entanto, não mudou a fórmula de seus discursos, que geram reações negativas em uma parcela das mulheres.

Bolsonaro não poupa Michelle de piadas machistas e já fez insinuações sobre sua vida sexual. Em novembro de 2021, deixou a esposa aparentemente constrangida num evento no Planalto ao dizer que havia dado um "bom dia muito especial" a ela. "Acredite se quiser", disse ele na ocasião, rindo.

Em julho, o chefe do Executivo disse que Michelle aprendeu Libras (Língua Brasileira de Sinais) porque falava alto em casa. "Como ela falava muito alto comigo em casa, disse: 'Tu vai aprender Libras'. Aí ela aprendeu Libras", afirmou Bolsonaro, também rindo, em conversa com apoiadores em frente ao Alvorada.

Na ocasião, disse ainda que a mulher pedia dinheiro todo dia. "Meu salário bruto de presidente é R$ 33 mil. Não tô reclamando, tenho tudo de graça. Não gasto quase nada do meu salário. Quem gasta é a mulher."

Os exemplos de frases sexistas ditas por Bolsonaro não se restringem aos comentários sobre Michelle. No início do mês, afirmou que notícia boa para mulher é "beijinho, rosa, presente, férias".

Em 2020, o presidente insultou a repórter da Folha Patrícia Campos Mello, ao dizer que "ela queria um furo". "Ela queria dar o furo", afirmou o presidente a apoiadores, em meio a risadas, num trocadilho com o jargão jornalístico referente a informação exclusiva. O presidente foi condenado na Justiça por ofender a jornalista e obrigado a pagar indenização no valor de R$ 35 mil –ele ainda pode recorrer da decisão.

Em um dos episódios de machismo mais conhecidos, Bolsonaro, antes de se tornar presidente, chegou a dizer que só não estupraria uma deputada porque ela não merecia. "Fica aí, Maria do Rosário [PT-RS], fica. Há poucos dias tu me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que não estuprava você porque você não merece. Fica aqui para ouvir", afirmou o então deputado federal no plenário da Câmara, em 2014.

Também antes de chegar ao Planalto, em 2018, quando concorria à Presidência pela primeira vez, Bolsonaro viu atos organizados por mulheres em dezenas de cidades a dias do pleito. O "Ele Não", como ficaram conhecidos os protestos, relacionava o então deputado a atitudes machistas e misóginas.

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