Criminosos controlam 18% da área da Grande Rio, aponta estudo

A pesquisa mostrou que o Comando Vermelho controlava no ano passado uma área de 242 km²

© Reuters

Justiça VIOLÊNCIA-RIO 16/04/24 POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - O Comando Vermelho foi a única organização criminosa que expandiu sua área de atuação na região metropolitana do Rio de janeiro em 2023, de acordo com um novo estudo divulgado nesta segunda-feira (15).

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O grupo teve um crescimento de 8,4%, e agora atua em 51,9% das áreas controladas por criminosos, aponta o levantamento feito em parceria entre o Geni/UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense) e o Instituto Fogo Cruzado. A comparação é entre os dados do ano passado com os de 2022.

Já as milícias tiveram uma redução de 19,3% no período, e passaram a responder por 38,9% dos territórios controlados por grupos criminosos na Grande Rio.

A pesquisa mostrou que o Comando Vermelho controlava no ano passado uma área de 242 km². É o maior território sob seu controle desde que o levantamento foi iniciado, em 2008.As milícias estavam em uma área de 181 km² em 2023. É a primeira vez desde 2020 que o Comando Vermelho atua em uma área maior que as milícias.

O estudo também avaliou a evolução do controle territorial armado ilegal ao longo dos últimos 15 anos na Grande Rio. O levantamento aponta que 8,8% da área construída na região metropolitana eram controlados por algum grupo criminoso em 2008. Em 2023, o percentual mais do que duplicou, passando a ser de 18,2%.

Procurada, a gestão Cláudio Castro (PL) não se manifestou até a publicação deste texto.

As áreas nas quais o Comando Vermelho mais cresceu foram a Baixada Fluminense e a região leste da metrópole -que inclui municípios como Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.

As milícias perderam territórios principalmente na baixada e na zona oeste da capital. As outras duas facções ligadas ao tráfico de drogas, o TCP (Terceiro Comando Puro) e a ADA (Amigos dos Amigos), também tiveram recuos de 13% e 16,7%, respectivamente. Juntas, elas atuam em uma área de cerca de 40 km².

Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, de acordo com investigadores, o Comando Vermelho quer criar uma espécie de "cinturão" entre a Baixada Fluminense, a zona norte e a zona oeste. Para isso, disputa as áreas antes controladas por milicianos e pelo TCP.

Atualmente há cinco grandes regiões em conflito: Barra da Tijuca, Jacarepaguá (ambos na zona oeste), Penha (na zona norte); Nova Iguaçu e Queimados (os dois na Baixada Fluminense).

A polícia afirma que Edgar Alves, o Doca, apontado como um dos chefes mais antigos do Comando vermelho, planeja desde janeiro de 2023 a expansão do grupo, após perceber um enfraquecimento da milícia que atua na região.

A reportagem não conseguiu contato com ele, que não possui advogado.

De acordo com investigadores, hoje não há diferença na forma de atuar de traficantes e milicianos -ambos cobram taxas de moradores e vendem drogas. Investigações das polícias Civil e Militar apontam, no entanto, maior envolvimento de agentes públicos com milicianos do que com traficantes.

As diferenças entre as quadrilhas, segundo a Promotoria e a Polícia Civil, estão no modo de dominar o território. A milícia utiliza o medo difuso com ameaças e não há homens com armamento pesado nos acessos, nem barricadas ou pichações com símbolos das quadrilhas. Já o tráfico coopta crianças da própria comunidade para o crime e realiza mais ações assistencialistas em suas áreas.

Embora disputas entre facções sempre tenham existido no Rio, o traçado de um "cinturão" e da expansão em definitivo ocorreu após a morte de Rodrigo Dias, o Pokémon, apontado como chefe de milícia de Rio das Pedras, em janeiro de 2023.

A região é o berço das milícias do Rio, além de ser apontado como um dos lugares que mais geram dinheiro aos criminosos. Somente com a exploração de vans, por exemplo, investigações da Draco (Delegacia de Ações Criminosas Organizadas) apontam lucro mensal de R$ 3 milhões. A prisão das lideranças milicianas também enfraqueceu o grupo, afirmam pesquisadores do Geni.

A diretora de dados e transparência do Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto, afirma que o braço financeiro dos grupos deve ser combatido, assim como a corrupção de agentes públicos.

"Enquanto não houver política pública voltada para desarticulação efetiva das redes econômicas que sustentam os grupos armados e para proteção de funcionários públicos que prestam serviços essenciais em todos os bairros do Grande Rio, conviveremos com essa oscilação onde um ano a milícia cresce mais e no outro CV [Comando Vermelho] lidera", afirma a diretora de Dados e Transparência do Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto.

Leia Também: Padrasto agride criança de 3 anos até a morte na Baixada Fluminense

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