Dólar fecha em alta e volta a R$ 5,70, em sessão de ajustes, com juros e tarifas no radar

Apesar da alta firme desta sessão, a moeda norte-americana acumulou queda de 0,47% ao longo da semana

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Economia Moedas Há 15 Horas POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar subiu 0,69% nesta sexta-feira (12) e encerrou a semana cotado a R$ 5,715, com ajustes após uma semana de forte valorização dos ativos brasileiros.

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O movimento ainda refletiu a cautela dos investidores diante de incertezas comerciais globais, motivadas pelas tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Decisões de juros de quarta-feira e aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual) no Congresso também pautaram os negócios.

Apesar da alta firme desta sessão, a moeda norte-americana acumulou queda de 0,47% ao longo da semana. Já a Bolsa fechou em alta de 0,29%, a 132.344 pontos, somando valorização de 2,62% desde a última sexta-feira.

Os investidores se valeram das sequências de valorização da Bolsa brasileira para realizar lucros. Entre terça-feira da semana passada e a última quarta-feira (19), o índice Ibovespa saiu de 123.507 pontos para 132.508 pontos.

A bonança foi interrompida na véspera, em pregão embalado pelas decisões de decisões de juros do Copom (Comitê de Política Monetária) e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

"Houve um forte fluxo estrangeiro de compra na Bolsa por conta das tensões comerciais dos EUA com o resto do planeta, o que fez com que muito dinheiro entrasse no mercado brasileiro. Os investidores realizaram lucros, o que fez com que recursos saíssem do país neste momento", explica Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.

Estrangeiros precisam comprar reais para investir na Bolsa, o que tende a valorizar a cotação da moeda brasileira. E o inverso também é verdadeiro: se há um forte fluxo de vendas, o real costuma se desvalorizar, fortalecendo o dólar.

A realização de lucros aconteceu em meio à cautela generalizada diante das medidas tarifárias de Trump. A próxima semana, segundo analistas, deve ser pautada pela guerra comercial do republicano, e operadores já se movimentam com o 2 de abril -dia em que ele prometeu anunciar uma série de tarifas recíprocas- em vista.

A reciprocidade tarifária dos Estados Unidos mira espelhar as taxas praticadas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos. Japão, Índia e União são os maiores alvos das novas medidas, segundo disse um funcionário do alto escalão do governo em fevereiro, enquanto o documento informativo da Casa Branca acrescentou o Brasil à lista.

Uma eventual retaliação dos países afetados não é carta fora do baralho. Para o mercado, a maior preocupação é que a guerra comercial escale e distorça cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos e de outras potências econômicas, como a Alemanha, há ainda temores de que o tarifaço provoque uma recessão.

Trump e seus assessores não descartam a possibilidade. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse que as políticas "valem a pena" mesmo que causem uma recessão. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que a economia pode precisar de um "período de desintoxicação" após se tornar dependente dos gastos do governo. E Trump disse que haverá um "período de transição" à medida que suas políticas entrarem em vigor.

"O ambiente externo inspira cautela e aversão ao risco, o que pode privilegiar a busca por ativos considerados portos seguros para momentos de estresse e incerteza, como ouro, franco suíço e iene japonês. Isso é um fator de pressão para o real", diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da Stone X.

Se o tarifaço aumentar o custo de vida dos norte-americanos, é possível que a briga do Fed contra a inflação sofra um revés e force a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.

O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, endereçou esses temores em entrevista coletiva nesta semana, após a autoridade monetária decidir manter os juros na faixa de 4,25% e 4,50% pela segunda vez consecutiva. Ele disse que é "muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas", mas que "o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas" e que "boa parte das projeções de alta deriva da política tarifária".

O cenário desenhado por especialistas é de uma "estagflação", isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

O banco central dos EUA ainda estima uma redução total de 0,50 ponto percentual até o final do ano. "É uma postura cautelosa diante das incertezas econômicas geradas pelas políticas do governo Trump, como tarifas comerciais e alterações no gasto público", diz José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.

O BC (Banco Central) decidiu sobre a taxa básica de juros do país no mesmo dia. O Copom cumpriu com a indicação das reuniões anteriores e apertou a Selic em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano.

O comitê sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, e que pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar disso, evitou se comprometer com um ritmo específico de ajuste.

Também na cena doméstica, o mercado avaliou a aprovação da LOA de 2025 pelo Congresso Nacional.

A proposta que traz a previsão de receitas e despesas do governo federal para este ano prevê um superávit de R$ 15 bilhões, valor superior aos R$ 3,7 bilhões previstos anteriormente. Essa sobra, segundo o relator do projeto na CMO (Comissão Mista de Orçamento), senador Ângelo Coronel (PSD-BA), veio do ajuste da inflação aplicado ao teto de gastos.

O resultado só é positivo porque R$ 44 bilhões destinados ao pagamento de precatórios ficam fora do cálculo do teto de gastos. Do contrário, o Orçamento ficaria negativo. O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou que essas despesas não entrem no limite de gastos, nem sejam consideradas para verificação da meta fiscal.

"O superávit é uma boa notícia, mas a credibilidade fiscal do governo ainda está baixa. Os investidores se mostram muito pessimistas com a estabilidade das contas públicas, especialmente em um contexto em que a aprovação do governo Lula têm caído", comenta Mattos, da StoneX.

"O mercado teme que o governo aumente os gastos fiscais para tentar revitalizar a economia e recuperar a popularidade antes das eleições de 2026. Nesse sentido, vai ser importante acompanhar a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas primárias, que sai ao final do mês e pode ajudar a entender a evolução dos gastos públicos."

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