Mulheres já produzem metade da ciência do Brasil, diz levantamento

Os resultados são parte do relatório Gender in the Global Research Landscape (gênero no cenário global de pesquisa, em tradução livre), lançado nesta quarta (8) pela Elsevier

© Divulgação / CNPEM

Brasil dia da mulher 08/03/17 POR Folhapress

 A proporção de mulheres que publicam artigos científicos -principal forma de avaliação na carreira acadêmica- cresceu 11% no Brasil nos últimos 20 anos. Agora elas publicam quase a mesma quantidade que os pesquisadores homens (49%).

PUB

Os resultados são parte do relatório Gender in the Global Research Landscape (gênero no cenário global de pesquisa, em tradução livre), lançado nesta quarta (8) pela Elsevier, maior editora científica do mundo. O material traz um levantamento de dados da publicação acadêmica feita por mulheres em 11 países e na União Europeia em dois períodos: de 1996 a 2000 e de 2011 a 2015.

Os dados mostram que, dentre os países pesquisados, Brasil e Portugal são os que mais contam com autoras em trabalhos científicos (49% do total). Isso é percebido no cotidiano dos cientistas: "Eu não tinha as estatísticas, mas já diria que hoje nós mulheres somos metade da produção científica nacional", diz Mayana Zatz, geneticista do Centro de Genoma Humano da USP.

Em outros seis países (Reino Unido, Canadá, Austrália, França e Dinamarca) o número de publicações por mulheres já atingiu pelo menos 40% do total, considerado patamar de igualdade.

Nos dados entre os anos de 1996 e 2000, somente Portugal contava com taxas superiores a 40%. A quantidade de pesquisadoras, no entanto, muda de acordo com a área do conhecimento, segundo o relatório.

SAÚDE

Hoje, são elas que dominam as publicações de medicina no país: uma em cada quatro estudos publicados na área por pesquisadores brasileiros tem uma cientista mulher como principal autora.

Nas chamadas ciências duras, no entanto, elas ainda estão em minoria. De acordo com o levantamento da Elsevier, publicações de áreas como ciências de computação e matemática têm mais do que 75% de homens na autoria dos trabalhos na maior parte dos países pesquisados.

"Áreas de exatas são um problema porque desde a primeira infância as meninas vão sendo afastadas", diz Márcia Barbosa, física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e especialista em gênero.

Fato: um estudo publicado na revista científica "Science" em fevereiro mostrou que a partir dos seis anos as meninas começam a se achar menos inteligentes do que os meninos na escola -que, acreditam elas, lideram e fazem grandes descobertas."Temos uma cultura de que a menina tem de ser uma princesinha que, por exemplo, não pode se sujar", diz Barbosa. "Ciências exigem experimentação."

TETO DE VIDRO

A igualdade na distribuição de autoria dos trabalhos científicos observada no Brasil não se reflete, no entanto, nos cargos científicos de liderança. Reitores de universidade, chefes de departamentos e coordenadores de linhas de pesquisa ainda são, em sua maioria, homens.

É isso que os estudiosos de gênero chamam de "teto de vidro": um bloqueio invisível que as mulheres não conseguem quebrar para chegar ao topo."As mulheres vão sumindo ao longo da carreira. É como se houvesse um vazamento de mulheres pelo caminho", diz Marcia. Para a especialista, é preciso ter políticas que entendam e trabalhem o fenômeno. "Não podemos ver isso como algo dado e natural."Tamara Naiz, historiadora e presidente da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos) afirma que a mulher precisa lidar com diversos entraves ao longo da carreira científica.

Um deles, diz ela, é a falta de proteção com relação a maternidade."Quando uma mulher é aprovada em um curso de pós-graduação, é comum ela ouvir de orientadores que não poderá engravidar para que a pesquisa não seja interrompida", conta.

"Se somos cientistas tão capazes quanto os homens, por que isso não se reflete em igualdade de salários e de oportunidades?", questiona Naiz. "O resultado do levantamento mostra que, mesmo partindo de condições desiguais, a mulher consegue desenvolver uma pesquisa tão boa quanto a de um homem."

IMPACTO

Isso pode ser observado nos números. No Brasil, a qualidade dos trabalhos publicados por homens e por mulheres -medido pela quantidade de vezes em que um estudo é citado em outros trabalhos, que é chamado de "impacto"- também é semelhante.

As brasileiras recebem 0,74 citação por estudo publicado, enquanto os cientistas homens do país têm 0,81 citação em seus trabalhos.

O impacto dos artigos científicos publicados por homens e por mulheres é semelhante até nos países em que a produção de ciência é bastante desigual.No Japão, por exemplo, as mulheres são autoras de apenas dois em cada dez trabalhos científicos. Os artigos delas, no entanto, recebem 0,94 citação -número bem próximo do impacto dos trabalhos dos homens daquele país (0,96).

O levantamento foi feito com a base de dados da Elsevier, a Scopus, que lista autores de mais de 62 milhões de documentos em cerca de 21,5 mil revistas acadêmicas.

Como a identificação de gênero não é necessária em publicações científicas, um segundo processo atribui gênero aos nomes contando com conjuntos de informações de cada país que relacionam nome e sexo com pelo menos 80% de certeza. Com informações da Folhapress.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

brasil Distrito Federal 13/01/25

Homem morre após tentar estuprar vaca em fazenda no Distrito Federal

mundo EUA 13/01/25

Incêndios devastam Los Angeles, e mansão intacta em Malibu chama atenção

justica Rio de Janeiro 13/01/25

Polícia investiga morte de jovem achado dentro de geladeira em Niterói

mundo Los Angeles 13/01/25

Sobe para 24 número de mortos em incêndios de Los Angeles

esporte VINÍCIUS-JÚNIOR 13/01/25

Vinícius Júnior negocia compra de time português por 10 milhões de euros

lifestyle Arroz 13/01/25

Cuidado ao reaquecer arroz; pode não ser seguro para sua saúde

lifestyle Ataque cardíaco 13/01/25

Ataque cardíaco: 11 sintomas que você nunca deve ignorar

justica Geovana 13/01/25

Menina desaparece após pegar ônibus para ir visitar a avó em Campo Grande

fama Spencer Treat Clark 13/01/25

Ator de 'Gladiador' perde casa em incêndios de Los Angeles

mundo Ucrânia/Rússia 13/01/25

Zelensky propõe trocar soldados norte-coreanos por ucranianos em Moscou