Mulheres são mais vulneráveis à Covid longa, mostra estudo

O estudo foi conduzido com base na RECOVER-Adult, a maior coorte de história da Covid longa, abrangendo 83 locais nos Estados Unidos. Foram analisados 12.276 participantes, sendo 73% mulheres, recrutados entre outubro de 2021 e julho de 2024

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Lifestyle SAÚDE-CORONAVÍRUS Há 11 Horas POR Folhapress

(FOLHAPRESS) - Um estudo publicado nesta quarta-feira (22) na revista médica Jama Network Open revelou que as mulheres enfrentam um risco significativamente maior de desenvolver Covid longa em comparação aos homens, com exceção da faixa etária de 18 a 39 anos, onde os riscos são semelhantes. Pesquisas anteriores já indicavam que as mulheres têm maior propensão a apresentar sintomas persistentes após a infecção pelo coronavírus, um fenômeno possivelmente influenciado por fatores hormonais e imunológicos.

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O estradiol tem papel central nesse processo, fortalecendo a resposta imunológica inicial das mulheres. No entanto, altos níveis do hormônio podem prolongar a inflamação, contribuindo para a persistência dos sintomas. Em contraste, a testosterona, mais abundante nos homens, tem efeito imunossupressor, reduzindo a probabilidade de Covid longa, mas aumentando a vulnerabilidade a casos graves da doença.

"O estradiol fortalece a resposta imune inicial em mulheres, regulando células-chave como macrófagos e células dendríticas e melhorando nossa defesa contra o vírus", afirma o infectologista Alexandre Naime, da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

As diferenças imunológicas entre homens e mulheres também desempenham um papel fundamental. Mulheres possuem uma resposta imunológica inata mais robusta, o que combate melhor infecções iniciais, mas pode causar inflamações prolongadas.

A ativação exacerbada das células T e das células "natural killer", defensores cruciais do sistema imunológico que protegem o corpo contra infecções e eliminam células cancerígenas, pode prolongar a inflamação e dificultar a recuperação completa. Naime explica que "essa intensa atividade imunológica e a dificuldade em eliminar completamente o vírus podem resultar em uma ativação contínua, associada à persistência dos sintomas".

Adicionalmente, a tendência das mulheres a desenvolverem autoanticorpos após infecções virais, que atacam tecidos do próprio corpo, contribui para sintomas como fadiga e dores musculares. Essa condição está vinculada a doenças crônicas mais prevalentes em mulheres, como fibromialgia e outras condições autoimunes, que compartilham fatores predisponentes com a Covid longa, influenciados pelo estrógeno e pelo cromossomo X.

Fatores relacionados à menopausa e gravidez também influenciam o risco. Mulheres de 40 a 54 anos não menopáusicas têm maior predisposição, enquanto a gravidez pode aumentar os riscos em certos casos. Entretanto, mesmo quando mulheres grávidas foram excluídas do estudo, ser do sexo feminino continuou sendo um fator de risco.

Segundo Max Igor Lopes, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), "as mulheres possuem maior probabilidade de ativação imunológica, o que as torna mais suscetíveis à Covid longa, embora os fatores exatos ainda não sejam totalmente conhecidos".

Além dos impactos físicos, como perda de função pulmonar, a Covid longa tem consequências graves na saúde mental das mulheres, incluindo ansiedade e depressão, o que compromete a qualidade de vida. Esses efeitos destacam a necessidade de estratégias específicas de prevenção e tratamento para o público feminino.

Lopes explica também que os danos diretos causados pelo vírus durante a infecção aguda também desempenham um papel importante no desenvolvimento da Covid longa.

O estudo foi conduzido com base na RECOVER-Adult, a maior coorte de história da Covid longa, abrangendo 83 locais nos Estados Unidos. Foram analisados 12.276 participantes, sendo 73% mulheres, recrutados entre outubro de 2021 e julho de 2024.

Os participantes foram acompanhados com questionários trimestrais e exames anuais. A análise foi ajustada para fatores sociodemográficos, vacinação, hospitalização e comorbidades, com estratificação por idade e status menopausal.

Além disso, os autores destacam limitações, como viés de seleção e falta de dados sobre níveis hormonais e uso de medicamentos. Eles enfatizam a necessidade de mais pesquisas para compreender os mecanismos biológicos subjacentes e desenvolver intervenções eficazes para mulheres, que enfrentam riscos desproporcionalmente maiores de Covid longa.

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