Itamaraty substituiu negociador do Brics após pressão de Dilma

O mandato de Dilma à frente do banco expira em julho

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Economia Negócios Há 5 Horas POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após pressão da ex-presidente Dilma Rousseff, o governo brasileiro substituiu o principal negociador do Brics em pleno ano de realização da cúpula do bloco no Brasil. O embaixador Eduardo Saboia, que foi o sherpa (negociador principal) das últimas duas cúpulas do bloco, deixa o cargo de secretário de Ásia e Pacífico e sua função no Brics, e deve assumir como embaixador na Áustria, caso seja confirmado pelo Senado.

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Como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla inglês), o nome oficial do banco do Brics, Dilma participa das reuniões do bloco.

Em 2023, após ver Saboia na cúpula do bloco na África do Sul, Dilma ligou para o presidente Lula para protestar contra a presença do diplomata em reuniões. Ela se recusa a ficar no mesmo recinto que Saboia.

A ex-presidente brasileira adicionou Saboia a sua lista de desafetos após o diplomata tirar, de forma clandestina, o senador boliviano Roger Pinto da embaixada do Brasil em La Paz, em 2013. Saboia era encarregado de negócios e levou o político boliviano até o Brasil, onde Pinto pediu refúgio.

Senador da oposição, Pinto acusava o então presidente da Bolívia, Evo Morales, de persegui-lo politicamente. O senador estava há mais de um ano na embaixada brasileira aguardando resposta a um pedido de asilo político. O governo boliviano não concedia salvo-conduto para Pinto sair da embaixada e ir para o Brasil, e o governo Dilma não queria se indispor com Evo, considerado um aliado importante.

O episódio levou Dilma a demitir o então chanceler, Antonio Patriota. Saboia foi para a "geladeira" do Itamaraty e só seria reabilitado no governo Temer, quando se tornou chefe de gabinete do então chanceler Aloysio Nunes.

No primeiro momento em que Dilma se queixou a Lula da presença de Saboia no Brics, em 2023, o Itamaraty não agiu. Mas ela continuou a criticar o chanceler Mauro Vieira por manter o diplomata no posto.

No final do ano passado, quando o presidente Lula costurou um acordo para Dilma ser reconduzida à presidência do banco, o Itamaraty pôs em marcha a substituição.

O mandato de Dilma à frente do banco expira em julho. A recondução, em tese, viola as regras do banco, que estabelecem mandatos de cinco anos e rodízio entre os países.

O próximo presidente da instituição financeira deveria ser um representante da Rússia. No entanto, o país está sob inúmeras sanções internacionais por causa da Guerra da Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, decidiu ceder a vez em favor de Dilma.

A maior defensora da permanência de Dilma no Banco dos Brics era a China. O governo chinês tem relacionamento próximo com a ex-presidente. Em setembro do ano passado, o líder Xi Jinping concedeu a ela a Medalha da Amizade, a mais alta honraria da China para estrangeiros.

Quem assumiu o lugar de sherpa na negociação da cúpula do Brics foi Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros. Ele desempenhou essa função no G20, no ano passado.

Procurado, Saboia enviou uma nota. "Como secretário de Ásia e Pacífico e sherpa do Brics, sempre contei com o apoio e orientações do ministro Mauro Vieira. Com a ampliação do Brics, faz todo sentido devolver essa função à Secretaria de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, hoje sob a competente chefia do embaixador Mauricio Lyrio."

O Brics originalmente era formado por Brasil, Rússia, Índia e China. A África do Sul passou a integrá-lo em 2011. Em 2023, seis novos membros foram convidados: Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia. Buenos Aires, já sob Milei, recusou o convite, e a Arábia Saudita acompanha as atividades do bloco sem ter ainda respondido oficialmente.

A Folha de S.Paulo procurou a assessoria de imprensa do banco do Brics, mas não obteve retorno.

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