Forças de Putin cercam ucranianos no sul da Rússia

Nesta segunda (10), a Guarda de Fronteira da Ucrânia confirmou que forças de Moscou invadiram a região de Sumi pela primeira vez desde 2022

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Mundo Guerra Há 19 Horas POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Forças de Vladimir Putin começaram a fechar o círculo em torno de cerca de 10 mil militares de Kiev que ainda ocupam território em Kursk, no sul da Rússia, ameaçando anular uma das poucas cartas que Volodimir Zelenski tem em mãos para as negociações visando encerrar a Guerra da Ucrânia.

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Em agosto passado, Zelenski surpreendeu Putin com o avanço na área, junto à região ucraniana de Sumi. Chegou a ocupar cerca de 1.300 km2, área um pouco maior do que a da cidade do Rio, e dominar a importante Sudja, ameaçando a própria capital regional, também chamada Kursk.

Além de ter uma ficha de barganha à mão, Kiev esperava retirar pressão da frente russa no leste de seu país. Putin, humilhado por ver botas estrangeiras pela primeira vez na Rússia desde que os nazistas invadiram a União Soviética em 1941, não desviou recursos para lá inicialmente.

A partir do acordo militar com a Coreia do Norte, direcionou segundo relatos forças de Pyongyang para Kursk, e aos poucos foi recuperando terreno. Desde a virada do ano, aumentou a pressão, já de olho na chegada de Trump ao poder -de forma mais incisiva que o esperado, o americano alinhou-se a Putin na guerra.

Agora, Kiev controla aproximadamente 500 km2, e os russos cercaram o saliente ucraniano por todos os lados, iniciando um movimento em pinça para o que no jargão militar se chama "fechar o caldeirão".

Nesta segunda (10), a Guarda de Fronteira da Ucrânia confirmou que forças de Moscou invadiram a região de Sumi pela primeira vez desde 2022, buscando fechar o flanco oeste do caldeirão. A leste, o movimento ocorre em solo russo. O comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirskii, buscou minimizar o risco de uma debacle, dizendo que não há um cerco completo.

Se a pressão funcionar, a operação visa deixar apenas duas alternativas: uma retirada pelo corredor ao sul da área invadida que ainda está aberto ou enfrentar um cerco sem linhas de suprimento, que já estão bastante degradadas segundo blogueiros militares russos e ucranianos.

Os combates em Kursk são considerados alguns dos mais violentos na guerra, mas paradoxalmente há pouquíssima informação sobre eles: Kiev quer manter suas posições em segredo, e Moscou baixou um blecaute informativo relativo sobre o que ocorre na região.

Segundo um observador em Moscou disse à Folha de S.Paulo, já não há suporte para novas operações ofensivas de Kiev no saliente. Ele disse acreditar que os ucranianos irão tentar evitar o recuo até o último momento, devido à questão das negociações, mas que sua posição já é praticamente insustentável.

Zelenski chegou nesta segunda (10) a Jeddah (Arábia Saudita) para preparar o terreno das conversas entre seu time negociador e outro enviado pelos Estados Unidos na terça (11), além de encontrar-se com príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman.

Há duas semanas, os americanos haviam se encontrado sozinhos com os russos na capital saudita, Riad, gerando protestos de Kiev. A reunião desta terça será em Jeddah, e o presidente ucraniano não estará presente, e sim o poderoso chefe de gabinete Andrii Iermak e os ministros da Defesa e das Relações Exteriores.

De lá para cá, Trump brigou com Zelenski ao vivo na Casa Branca, cortou a ajuda militar e o fornecimento de inteligência a Kiev.

A animosidade foi temperada com um recuo do ucraniano, que aceitou submeter-se à autoridade do americano, que por sua vez disse na noite de domingo (9) que estava perto de retomar o compartilhamento de dados como imagens de satélite com Kiev.

O fim de semana deu uma amostra do que a falta desse tipo de informação pode fazer, com ataques maciços da Rússia com mísseis balísticos, além dos usuais drones de mais fácil interceptação.

A Ucrânia montou uma engenhosa rede de sensores acústicos pelo país para detectar a passagem dos mísseis, mas o sensoriamento remoto de lançamentos em território russo só fica acurado se feito por satélites.

Também no domingo, Trump disse que esperava avanços nas conversas bilaterais com os ucranianos. "Temos de ouvir o que eles estão dispostos a fazer", disse o secretário de Estado americano, Marco Rubio, que chefia a delegação americana.

Ele disse que Kiev pode voltar a receber ajuda americana. "Eu acho que a noção da pausa na ajuda, de forma geral, é algo que eu espero que possamos resolver. Obviamente, o que ocorrer amanhã será chave para isso", disse Rubio no avião rumo à Arábia Saudita. Zelenski já sugeriu aceitar uma trégua parcial, de ataques aéreos e marítimos.

A Europa segue fora das negociações, com Washington fazendo o papel de intermediário entre Moscou e Kiev. Também nesta terça, uma reunião com cerca de 30 países irá discutir os planos de rearmamento do continente ante o desengajamento proposto por Trump.

No Kremlin, o porta-voz Dmitri Peskov disse nesta segunda que é preciso "esperar para ver se a Ucrânia quer a paz", repetindo o mantra do chefe, Putin, que foi adotado por Trump também. Os russos já disseram que Kursk é inegociável à mesa.

De seu lado, antes de embarcar Zelenski apontou para os mortos do fim de semana em seu país para acusar o rival de ser o belicista.

Em solo ucraniano, resta também esta saber também se a presença russa em Sumi apenas visa a operação em Kursk ou irá tornar-se permanente, adicionando mais um pedacinho do vizinho na conta dos cerca de 20% que Putin controla do país. Na Rússia, duas refinarias foram atingidas no fim de semana por drones de Kiev.

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