Grupo suspeito de agendar consulta em troca de apoio político no RJ é alvo da PF
A PF cumpre nove mandados de busca e apreensão em endereços em Queimados e em Brasília. O órgão não citou os nomes dos alvos, mas parte deles atuava na secretaria municipal de Saúde de Queimados.
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Justiça OPERAÇÃO-RIO
(FOLHAPRESS) - A Polícia Federal faz nesta terça-feira (21) uma operação contra um grupo suspeito de agendar consultas médicas para a população em troca de apoio político e votos nas eleições de 2024 em Queimados, município da Baixada Fluminense a 53 km do Rio de Janeiro.
A PF cumpre nove mandados de busca e apreensão em endereços em Queimados e em Brasília. O órgão não citou os nomes dos alvos, mas parte deles atuava na secretaria municipal de Saúde de Queimados.
A Justiça do Rio determinou o bloqueio de bens e o afastamento da função dos suspeitos que mantêm cargos públicos.
Em nota, a Prefeitura de Queimados disse que "assim que soube das denúncias, em 2024, afastou todos os servidores citados e instaurou um processo administrativo disciplinar para apurar os fatos e adotar as possíveis sanções".
O município disse ainda que está à disposição das investigações.
A investigação começou após notícia-crime feita por vereadores de oposição ao prefeito de Queimados, Glauco Kaizer (União), em setembro, durante as eleições. Kaizer foi reeleito.
De acordo com a denúncia, centenas de agendamentos de consultas médicas eram efetivados através do Sisreg, o sistema nacional de regulação do SUS (Sistema Único de Saúde), por pessoas que tinham a intenção de reservar as vagas para outras.
Ainda segundo a denúncia, as vagas eram repassadas em troca de ganhos eleitorais, como apoio político e votos nas eleições.
A PF não mencionou quais seriam os candidatos beneficiados. Vereadores afirmam que os servidores eram ligados a Marcelle Nayda, ex-secretária de Saúde de Queimados e candidata a vereadora em 2024 pelo PSB. Ela não foi eleita.
A reportagem procurou Marcelle, mas não conseguiu resposta. Em setembro, quando a notícia-crime foi protocolada, ela afirmou não haver provas e disse que acompanhava de perto o caso.
O Sisreg é um sistema do SUS que controla o fluxo aos serviços públicos de saúde, conforme a quantidade de vagas, leitos e especialidade. Ele funciona como uma fila.
A denúncia feita por vereadores locais aponta que os autores das irregularidades tinham acesso total ao sistema. Eles conseguiam acessar as vagas que estavam abertas e usavam seus próprios nomes, ou nomes de terceiros, para fazer a reserva.
Depois, trocavam pelo nome da pessoa interessada na consulta, desde que ela estivesse comprometida em apoiar os candidatos. As irregularidades teriam sido cometidas entre 2021 e 2024.
A denúncia aponta que seis funcionários da secretaria de Saúde inseriam dados irregulares. Um servidor municipal teria marcado 84 consultas para realização de vasectomia, duas consultas de obstetrícia e outras duas de ginecologia, todas com o próprio nome.
Outra servidora teria realizado seis marcações de consultas de infectologia pediátrica.
"Há casos de marcação de vasectomia, ligadura, cirurgias de catarata e diferentes tipos de exames. Um subsecretário tinha 1.300 marcações de consultas e existe uma carência de saúde no município. As pessoas não conseguiam consultas com ginecologista, por exemplo", afirma a vereadora Cíntia Batista (Avante).
Os suspeitos podem responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção eleitoral e inserção de dados falsos em sistema de informação.
A inserção de dados falsos é mesma suspeita que recaiu sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid e outras 15 pessoas, indiciadas na investigação da PF sobre suposta fraude de cartões de vacinação contra a Covid-19.
A fraude teria ocorrido no sistema do município de Duque de Caxias, também na Baixada Fluminense. O ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB) e a secretária de Saúde do município também são alvos de investigação.
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