Janeiro de 2025 já é o segundo com mais mortes causadas por dengue no país
Na série histórica, que vai até 2000, além de 2024 e 2025, o janeiro mais letal ocorreu em 2010, com 86 óbitos, seguido por 2013, com 76, e 2020, com 73
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Brasil Dengue
(FOLHAPRESS) - Até agora, janeiro de 2025 foi o segundo mais mortal para a dengue no país, ficando atrás apenas de 2024. Nas primeiras semanas do ano, o país já registrou 126 óbitos, e outros 248 casos estão sob investigação. No mesmo período de 2024, o número de mortes chegou a 438 -ou seja, janeiro deste ano ainda pode passar o do ano que vem, de acordo com a investigação das mortes.
O estado de São Paulo concentra a maioria das vítimas, com 111 mortes confirmadas em janeiro e 233 em análise. O governo estadual decretou estado de emergência em todo o território paulista nesta quarta-feira (19).
Na série histórica, que vai até 2000, além de 2024 e 2025, o janeiro mais letal ocorreu em 2010, com 86 óbitos, seguido por 2013, com 76, e 2020, com 73.
Embora os números de 2025, até o momento, sejam menores do que os de 2024, especialistas alertam que ainda é cedo para afirmar que este será um ano menos severo para a dengue.
A recomendação é manter a vigilância, pois os meses mais críticos da doença, especialmente março e abril, ainda estão por vir. Em 2024, o surto da dengue começou precocemente, já em dezembro de 2023, impulsionado por condições climáticas favoráveis à proliferação do Aedes aegypti.
"A dengue está sempre presente, mas, seguramente, teremos um número menor de casos do que em 2024", afirma Fernanda Maffei, médica infectologista da Irmandade da Santa Casa e do Hospital Albert Einstein.
A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz acreditar que o número de mortes registrado no ano passado não se repetirá. Em 2024, mais de 6.000 pessoas morreram em decorrência da doença, tornando o Brasil o país com maior taxa de letalidade por dengue no mundo.
"Dengue não é uma doença que deveria matar. Algo estava muito errado nesses números do ponto de vista da assistência à saúde", afirma. Segundo ela, enquanto a redução de casos depende da população e de medidas individuais, a diminuição da mortalidade envolve diretamente a atuação dos profissionais de saúde.
Com São Paulo registrando um número maior de mortes do que no mesmo período do ano passado, é possível que exista uma sobrecarga na rede de atendimento. "Nós precisamos regionalizar o problema. Não adianta analisar o cenário nacional sem considerar que um estado como São Paulo apresenta um agravamento da situação", ressalta Rosana.
Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor da Unaerp Guarujá (Universidade de Ribeirão Preto), explica que diversos fatores podem influenciar a evolução da epidemia.
"Se as medidas de controle forem reforçadas e mantidas, podemos observar uma desaceleração. No entanto, se houver falhas no combate ao mosquito, o cenário pode se agravar rapidamente. Além disso, a circulação de diferentes sorotipos do vírus pode impactar a gravidade da epidemia", alerta.
Ele se refere ao sorotipo 3, que voltou a circular em São Paulo após anos de ausência, o que significa que grande parte da população não tem imunidade contra ele. O que acontece no estado, para o pesquisador, pode ser um indicativo do que ocorrerá em outras regiões.
Há também especialistas que enxergam um cenário ainda mais preocupante.
"Minha previsão é que 2025 será o pior ano da série histórica, superando 2024. Estamos diante de uma curva ascendente, principalmente nos estados mais populosos", afirma Alexandre Naime, professor de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Minha previsão é que 2025 será o pior ano da série histórica, superando 2024. Estamos diante de uma curva ascendente, principalmente nos estados mais populosos, diz professor da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia
Naime também destaca que os dados do painel de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde não são atualizados em tempo real, o que pode mascarar a real dimensão da epidemia.
"As temperaturas continuarão subindo, as chuvas devem persistir. Diante dessas variáveis, é muito cedo para afirmar que 2025 será um ano mais brando", analisa Naime.
O médico critica uma recente nota do Ministério da Saúde, que aponta uma redução de aproximadamente 60% nos casos de dengue nas primeiras seis semanas de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado.
"Devemos manter a vigilância. Comemorar a diminuição no número de casos pode levar a população a relaxar e negligenciar as medidas de prevenção", diz
Em janeiro, o Ministério da Saúde criou o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para Dengue e outras Arboviroses. A iniciativa visa intensificar o monitoramento e o combate à dengue, como a Caravana da Saúde, que intensifica o controle da dengue em diferentes regiões do país.
Para Weissmann, um dos fatores que podem explicar a aparente redução de casos em 2025 é a imunidade parcial adquirida pela população após a epidemia de 2024, o que pode ter reduzido temporariamente a transmissão. Outra hipótese é que as medidas de prevenção, como a eliminação de criadouros e o uso de repelentes, estejam sendo mais seguidas após o impacto da última epidemia.
Entre as recomendações para o enfrentamento da doença, Rosana defende a distribuição gratuita de repelentes em locais públicos, como parques, onde as pessoas estão mais expostas -estratégia semelhante à adoção do álcool em gel durante a pandemia da Covid-19.
Os especialistas também enfatizam a importância da vacinação dos grupos prioritários, especialmente da segunda dose da vacina. Atualmente, o SUS disponibiliza o imunizante para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Na última sexta (14), o Ministério da Saúde autorizou todos os estados e o Distrito Federal a ampliarem a vacinação em casos em que o imunizante está próximo do vencimento.\
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