Lilia Cabral combate solidão da pandemia com ajuda de vizinha em filme 'A Lista'
Baseado em uma peça escrita por Gustavo Pinheiro, que conhece Copacabana com a palma das mãos, o filme é centrado em Laurita, vivida por Lilia Cabral, uma copacabanense aposentada sem papas na língua, que adora falar da vida dos outros e especialmente reclamar de vizinhos.
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Fama 'A Lista'
BRUNO GHETTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Copacabana já serviu de cenário para tantos filmes, novelas e peças teatrais que às vezes tem-se a impressão de que o bairro carioca talvez já tenha esgotado sua capacidade de fornecer personagens para a ficção. Mas, pelo que se vê no longa "A Lista", o local ainda tem material humano de sobra para inspirar artistas de todas as áreas.
Baseado em uma peça escrita por Gustavo Pinheiro, que conhece Copacabana com a palma das mãos, o filme é centrado em Laurita, vivida por Lilia Cabral, uma copacabanense aposentada sem papas na língua, que adora falar da vida dos outros e especialmente reclamar de vizinhos.
Mas sua solidão se torna ainda mais intensa durante a pandemia, quando ela precisa se aliar a uma moradora do mesmo prédio, muito mais jovem e com um modo de pensar bastante distinto do dela própria, mas que se oferece para fazer compras para ela, enquanto Laurita aguarda enfurnada em seu apartamento pelo fim da fase crítica da explosão de casos de Covid-19.
Claro que conflitos vão surgir, mas o convívio ajuda Laurita a se abrir para uma nova forma de encarar a vida. "Quando você tem uma boa história, não interessa se o personagem tem 15 anos, 22, 60, 80, porque vale a pena contar. E não é porque eu tenho mais idade, na história, que faz com que eu tenha necessidade de falar coisas profundas. Não! Ela [Laurita] não mudou com a vida, ela só vai olhar as coisas de forma diferente", diz Cabral, que tem 67 anos.
"É um amadurecimento dela sobre entender o que é a velhice. Perceber que faz bem você ser uma pessoa mais madura, mas também ser completamente inocente para outros caminhos. E você estar aberta para compreender e aprender é a coisa mais importante."
A jovem Amanda é vivida por Giulia Bertolli, filha de Cabral na vida real. "Ela está uma graça no filme, não está?", pergunta Cabral, sem disfarçar a corujice.
As duas interpretaram as personagens pela primeira vez no formato live, durante a pandemia real, em 2020. O experimento fez um estrondoso sucesso, a ponto de mãe e filha retornarem ao material em uma longa temporada no teatro, quando a Covid-19 já estava sob controle, e que agora ganha novo corpo no formato longa-metragem.
Mas "A Lista" não vai para os cinemas -foi feito já para estrear direto na TV, especificamente como atração da "Tela Quente", na Globo, na próxima segunda-feira (17).
O filme é uma produção dos Estúdios Globo, polo cinematográfico do grupo carioca voltado para obras audiovisuais a terem exibição prioritária na emissora e em suas plataformas. "A experiência coletiva, presencial de um filme exibido em uma sala de cinema... é claro que isso não tem preço", diz José Alvarenga Jr., diretor do longa. "Mas o que a televisão tem, e que ainda é muito forte, é que o resultado vem no dia seguinte. De imediato, todo mundo vai falar do seu trabalho, e isso é muito bonito."
A ideia de adaptar o material para um filme veio quando Alvarenga viu a peça, mas ele já havia detectado a relevância do conteúdo ainda na pandemia. "Na época, quando você pagava o ingresso online e via as duas [Lilia e Giulia], havia um grito de urgência. A Lilia até estava em evidência, porque a Globo não podia produzir novelas, então reprisou na época uma novela ["Fina Estampa"] com ela. Mas a personagem não tinha o calor do momento, então a Lilia estava muito angustiada. E elas fizeram a peça online pra poderem jogar pra fora o que elas estavam vivendo naquele instante."
A equipe do longa levou um enorme susto durante as filmagens. Foi bem na época em que Tony Ramos, que interpreta o par romântico de Laurita, teve um sério problema de saúde. Que alterou o plano de filmagem, mas que teve final feliz, com o retorno do ator, em excelentes condições.
"Eu só me lembro de acordar em uma UTI, depois de duas cirurgias, em 48 horas. Foi um hematoma subdural", diz Ramos, a respeito da condição cerebral, causada por um acúmulo sanguíneo em uma região do cérebro, agravado por uma virose, que fez com que precisasse ficar 45 dias em repouso.
Lilia Cabral se lembra do quanto aqueles dias foram aflitivos. "A gente tinha gravado uma cena e, no dia seguinte, ia continuar. Aí, de repente... como assim? Então é isso: caiu um piano em cima da pessoa, e acaba tudo? Aquela situação fez a gente repensar muita coisa", diz Cabral.
Ramos pôde perceber, ali, o quanto é querido pelos brasileiros. "A interação minha é direta com o público. Um frentista de posto de gasolina me falou: 'O senhor não queira saber o quanto rezamos pelo senhor. A minha história, eu conheço através do senhor!' Recebi depoimentos das pessoas mais inesperadas. Uma prova enorme de carinho e afeto, mesmo sem eu ter redes sociais."
"A gente ficou esperando ele voltar", diz Cabral. "Mas, mais do que um colega de trabalho, a gente esperava a volta de um amigo, né? Amigo do Brasil."
A LISTA
- Quando Estreia na próxima seg. (17), às 23h30, na TV Globo
- Classificação 12 anos
- Elenco Lilia Cabral, Tony Ramos, Giulia Bertolli
- Produção Brasil, 2025
- Direção José Alvarenga Jr.
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