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Posse de Trump leva clima de incerteza a brasileiros e imigrantes nos EUA

O republicano foi eleito com a bandeira de fazer a maior deportação da história do país e de restringir alguns tipos de vistos a cidadãos estrangeiros. A promessa gera receio em quem está em situação irregular, mas também em quem está com os papéis em dia.

Posse de Trump leva clima de incerteza a brasileiros e imigrantes nos EUA

Getty Images

Notícias ao Minuto Brasil

19/01/25 10:00 ‧ Há 4 Horas por Folhapress

Mundo TRUMP-POSSE

JULIA CHAIB
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - A palavra incerteza passou a ser uma constante entre brasileiros e outros imigrantes nos Estados Unidos às vésperas da posse de Donald Trump, que ocorre nesta segunda-feira (20).

 

O republicano foi eleito com a bandeira de fazer a maior deportação da história do país e de restringir alguns tipos de vistos a cidadãos estrangeiros. A promessa gera receio em quem está em situação irregular, mas também em quem está com os papéis em dia.

A Folha conversou na última semana com uma dúzia de imigrantes, além de pessoas que atuam em associações de apoio a refugiados e asilados. Os nomes citados na reportagem são fictícios, justamente porque eles temem o cancelamento de vistos e a deportação.

O medo de cruzar com o serviço de imigração também cresceu, e existem associações que estudam retomar serviços usados no passado para alertar em tempo real sobre a proximidade dos agentes do governo. A equipe de Trump planeja grandes operações pelo país para apreender imigrantes já na semana que vem.

"Tem gente dentro de casa que não quer abrir a porta porque tem medo de que seja o ICE [Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas, em inglês]. Eles pedem os documentos e, em vários casos, a pessoa é deportada", conta Paula, 46, cabeleireira que mora em Maryland -segundo pesquisa da Pew Research, um dos estados com maior número de imigrantes em situação ilegal.

Ela embarcou de Maceió para os EUA há sete anos com o visto de turista e ficou no país. Hoje, vive com o marido Juan, 49, que saiu de El Salvador há 15 anos para cruzar a fronteira do México com os EUA numa tentativa de conseguir uma vida melhor.

Paula ficou anos em situação irregular, mas, há pouco tempo, deu entrada em um pedido de asilo político e aguarda a audiência na corte que definirá seu destino. Ela diz que sofria abusos do ex-marido e teme voltar a Alagoas por isso. O pedido garante que ela possa ficar no país. Uma autorização permanente, porém, poderá ser concedida só depois do julgamento de seu caso.

Em seu primeiro mandato, Trump dificultou a permanência temporária ao exigir que o imigrante apresentasse o pedido de asilo no país natal para ter acesso à categoria nos EUA. Esse tipo de visto continua na mira do republicano, que afirma haver abusos nas solicitações -embora não haja evidências que sustentem essa afirmação.

"Eu fico um pouco receosa, mas isso não tem me paralisado. Eu vim para cá porque eu era missionária, e o senhor falou ao meu coração", afirma ela, que também é pastora.

Paula relata, no entanto, que viu crescer o sentimento de incerteza desde a eleição de Trump. Segundo ela, já houve situações, sobretudo no primeiro mandato do republicano, em que agentes do ICE chegaram a locais de trabalho com imigrantes para fazerem detenções e, depois, deportações. "Eles levaram pessoas que faziam coisas erradas, mas gente de bem também", diz.

O marido dela trabalha em restaurantes e permanece sem nenhum tipo de documento. Diferentemente da esposa, Juan teme ser deportado por Trump. Nenhum dos dois quer voltar ao país de origem.

Pesquisa da Pew Research Center divulgada em julho passado aponta que, em 2022, eram cerca de 11 milhões os imigrantes em situação irregular no país. Desse total, 230 mil saíram do Brasil -um salto em relação à década passada. Em 2012, havia por volta de 100 mil brasileiros em situação irregular nos EUA.

A grande maioria dos imigrantes não legalizados é proveniente do México: 4 milhões. Há um volume alto de pessoas que saem de países das Américas do Sul e Central em busca do sonho americano. El Salvador, país de origem de Juan, tinha 730 mil imigrantes em situação irregular nos EUA em 2022.

Mesmo com a insegurança, Clara, 32, não quer sair do país de Donald Trump. Ela chegou há dois anos com o então namorado, Mehmet, de origem turca -eles depois se casaram em solo americano, e hoje têm um restaurante na Califórnia.
O marido precisou viajar à Turquia quatro vezes no período e, na última delas, acabou detido na imigração do aeroporto por cinco dias acusado de abusar do visto de turista. À beira de ser deportado, solicitou asilo. Hoje, Clara e a filha estão listadas como dependentes no visto do asilo de Mehmet.
O maior receio dela é uma eventual decisão de Trump de dificultar o acesso ao asilo. Por isso, ela agora diz preferir que a audiência na Justiça demore para acontecer, o que significaria mais tempo de permanência garantido. "No dia que ele ganhou a eleição, nós consideramos tudo: até divórcio e casamento com um americano", diz.

Associações e igrejas que trabalham com refugiados e asilados têm promovido palestras na tentativa de combater o medo com informação. Uma dirigente da Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos (Lulac, na sigla em inglês), por exemplo, tem atuado para informar haitianos em Ohio sobre as garantias que eles têm caso sejam refugiados -status da maior parte deles.

O advogado Felipe Alexandre, sócio da ALFA Alexandre Law Firm & Associates, tem sido acionado para dar palestras e explicar como os imigrantes devem proceder para tentar se regularizar. "A eleição trouxe uma certa ansiedade para as pessoas. Quem vai ter que estar bem preocupada é a pessoa completamente ilegal, que nunca fez nenhuma solicitação e que tem antecedentes criminais ou ordem de deportação", explica.

Apesar do clima, há também um grupo de brasileiros mais esperançosos, que apoiam Trump e acreditam que ele vai mirar apenas imigrantes que tenham cometido crimes, deixando de fora outros que estão em situação irregular.

O sonho americano e a expectativa de mudar de vida foi o que atraiu o catarinense Décio Dassoler, 44, aos EUA. Ele desembarcou em Pittsburgh, na Pensilvânia, há dez anos e depois se mudou para Maryland. Formado em administração, ele aprendeu técnicas de construção nos EUA e abriu uma empresa na área, mesmo sem documentos que o autorizassem a trabalhar ou a permanecer de maneira legal no país.

"Os impostos eu pago normalmente e sigo nessa luta para tentar conseguir o green card [que autoriza a permanência no país]", conta.
Ao contrário do temor pela promessa de deportações de Trump, ele diz que está otimista. "A economia no mandato dele foi ótima e beneficiou a área de construção."

Agora, diz esperar situação semelhante. "Zero medo. Eu já vi muita gente deportada, mas alguma coisa errada fizeram. É sempre gente que tem antecedentes criminais. Na minha cabeça, eles vão atrás desse povo primeiro, e é muita gente. Estou tranquilo em relação a isso porque eles [os americanos] precisam da gente. E não é pouco", diz.

Segundo o American Immigration Council, um grupo de defesa dos imigrantes, custaria US$ 315 bilhões (R$ 1,8 trilhão) para prender, deter e deportar todos os 13,3 milhões que vivem nos EUA ilegalmente ou sob um status temporário revogável.

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